Álvaro Costa

Conheci-o pela primeira vez há alguns anos, poucos, em Mondariz, não como alguém ligado especificamente ao xadrez, mas mais como um pai que, tal como eu, tinha filhos a praticar este desporto. E que filhos! O contagiante humor e o sentido de camaradagem do João, aliados à doçura e simpatia da Catarina, tornam-nos verdadeiros exemplos de uma esmerada e responsável educação. Aconteceu que o nosso tema de conversa, por motivo da minha própria experiência profissional, foi o de existirem indivíduos nos lugares errados, quer na liderança de topo, quer em qualquer tipo de liderança que envolva o prestígio e a projecção de Portugal no Mundo.

Nem de propósito, e pouco tempo depois de termos conversado, aconteceu o que sabemos todos (saberemos mesmo?) à Federação Portuguesa de Xadrez (dessa altura). “Faliu” por manifesta irresponsabilidade e incompetência do então Presidente.

Abriram-se inquéritos, e foi mesmo paralelamente efectuada uma comunicação da situação ao Ministério Público. Como cidadão espero muito atenta e ansiosamente pelo seu desfecho, por ter sido directamente prejudicado pela incompetência “daquela” Federação (a não ser que esteja em segredo de justiça). Mas adiante.
A partir desta altura, quer através da Comissão Administrativa formada imediatamente, quer através dos novos Órgãos Federativos eleitos sem oposição, tudo aquilo a que assisti foi a obra feita, consubstanciada em comunicados pertinentes e consistentes, contratos firmados de forma honesta, critérios isentos, e um sem-número de iniciativas demonstrativas de manifesto empenho na recuperação do que fora destruído. A chefiar quer a Comissão, quer a nova Federação esteve o homem com quem comecei esta pequena crónica , como já todos saberão, ÁLVARO COSTA.
Não serão decerto os seus bonitos olhos ou o seu fino trato que me fazem proferir estas palavras (não sou para aí virado, passe a brejeirice). Com esse tipo de argumentos haverá já por aí muitos vigaristas capazes de conquistar muitos afectos e confiança aos mais desprevenidos.


A sobriedade das suas decisões, muito bem ponderadas e sempre alicerçadas nos mais elementares princípios de legalidade, isenção, equidade, ética e moral, aliados a uma abnegação ímpar com que se entregou à tarefa titânica de refazer dos escombros uma instituição praticamente destruída (que deveria ser muito mais acarinhada pelos actores da cena xadrezística), a seriedade, transparência e honestidade, há tanto tempo arredados do cargo que ocupou, tornam indubitavelmente Álvaro Costa um grande exemplo, um exemplo de um Presidente que fez mais pelo Xadrez Nacional em meses do que muitos foram capazes de fazer em anos de refastelamento na cadeira e de bilhetinhos de avião na mão.

Foi pois com muita tristeza que li o seu pedido de demissão. Quando os poucos D. Quixotes que por aí ainda andam, acreditando ainda em valores cada vez mais longínquos nos seus campos de visão tiveram a vã esperança de que agora é que iríamos ter uma Federação, sentiram de novo a terrível sensação e o pavor da possibilidade de voltar tudo à estaca zero ou, pior ainda, ao “antigamente”. Considero-me um deles, feliz ou infelizmente.
Sei que há sempre cretinos cujo encéfalo só sabe produzir impropérios contra tudo e contra todos, sempre que lhes tiram 10 cêntimos dos bolsos. Foram poucas estas vozes (eu diria quase nenhumas) durante o seu mandato agora interrompido. Porém, todos temos a perfeita consciência de que os cargos de chefia com alguma visibilidade são naturalmente expostos quer a críticas obscenas quer a bajulações despropositadas. É por isso mesmo que, para que não haja confusões, esta espécie de louvor pessoal está a ser escrito e tornado público após consumada a sua saída.

Terminando, desejo ao ÁLVARO COSTA, os meus sinceros parabéns pela qualidade do seu trabalho e da equipa que chefiou. Nada se faz sozinho, por isso e por muitas vezes é a escolha dos colaboradores que dita o sucesso ou porventura o fracasso de um projecto. Não quero crer que este desfecho tenha a ver com as qualidades ou deficiências dos elementos que constituíram esta equipa...

Desejo sinceramente as maiores felicidades no futuro a ÁLVARO COSTA e à sua fantástica família.


Alverca, 26 de Julho de 2005


José Manuel Gomes da Silva

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