Water, o “Hacker”

1997, os primeiros programas fortes de xadrez estavam a chegar a Alverca.
Ainda jogávamos nos Bombeiros de Alverca. Eu tinha na altura 13 anos.

Diz o Walter:
- Instalei uns programas novos de xadrez no meu computador. Aquilo é fantástico. Uma pessoa pode jogar contra o computador, analisar partidas, eu sei lá … Aquilo no nível mais forte é imbatível. Ó Ricardo, estes programas são capazes de te dar jeito, para te ajudar a subir no elo. O que é que tu achas?
- Sim, mas onde é que os posso obter?
- É muito fácil, eu dou-te isso tudo. Fazemos assim, tu levas o teu computador lá a minha casa e eu instalo-te isso.
- O computador? – exclamei eu; na altura ainda não haviam computadores portáteis, apenas computadores de secretária - isso não é um bocado grande?
- Não, não é nada. Não tens de trazer o monitor, isso é que é grande. É só mesmo a caixa do CPU.
- Humm… Está bem.
Consegui encontrar um saco grande o suficiente para poder carregar o computador e lá fui até à casa de Walter. Era perto, uns 300 metros.
Ligamos o meu computador e o Walter começou a meter as disquetes com os programas. Já não me lembro se a tarefa foi fácil ou não mas conseguimos pôr os programas a funcionar.
No fim eu exclamei admirado.
- Então mas … já está? Já está tudo a funcionar?
- Sim é como vês. Tens aqui tudo operacional. Agora já te podes preparar melhor para as “guerras dos subs”.
- Mas então, se só eram precisas as disquetes para instalar os programas, porque é que você não foi antes carregado com elas até minha casa, em vez de vir eu carregado com o computador até à sua?

1 Comentários:

Às 15 de julho de 2009 às 01:14 , Anonymous Anónimo disse...

Acabo de chegar de férias e a notícia inesperada vem sem bater à porta do ecran do computador!...

O Walter, o "velho" Walter, de que ninguém tinha nada a apontar...talvez quem o conhecesse mal dissesse que não era grande jogador:
Esses eram os que não eram (ainda) seus amigos, porque, como ele próprio dizia, "os meus amigos sabem que, na realidade, não sei jogar xadrez"...

Talvez isso fosse verdade sim (embora muitas vezes o Walter se divertisse imenso ao baixar voluntariamente o seu nível de jogo, dado que o fazia de uma forma que parecia genuína e iludia assim quem não o conhecesse bem...o que ele se divertia com isso...)

De qualquer forma, o próprio Walter era o menos interessado no seu nível de jogo, dado que desde há muito entendera o xadrez como pretexto previligiado de debate filosófico, fraterno e humorístico...para ele, os intervalos entre os lances, e entre as sessões dos torneios, eram a substância e o xadrez o seu invólucro...
...e não é esta também (ou acima demais) uma bela forma de ver o xadrez?!

E não é natural que assim seja quando, no meio de uma sala de análises e convívio xadrezístico, o Walter afirma "vocês que aqui estão, são também a minha família!" (Campo Grande, 2000).

Um forte abraço Walter, vais fazer cá muita falta porque parecidos contigo não há muitos...não haverá mesmo nenhum outro!

António Castanheira

 

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